terça-feira, 19 de julho de 2011

1.1 A procura

De repente, ainda meio doidão por causa do fumo de São Pedro, Jesus se viu na Praça da Sé, maconheiro já fala arrastado, agora imaginem um que fala aramaico misturado com português graças a uma mágica molambenta. Sem entender nada (coisa natural dele), ele viu um templo na sua frente (a Igreja da Sé) e pensou: “Ah, casa maneira do velho, vou entrar!”

Nem deu tempo, imaginem, um barbudo vestindo aquele túnica marota não chamaria a atenção no centro da cidade mais populosa do país e ainda falando enrolado daquele jeito. O pessoal que passava ali pensou na hora: “doido drogadão, cadê a guarda municipal?”.

Mal pos o pé na escadaria e juntou um monte de guarda em cima dele e já foram tentando puxar a ficha:

- Qual o seu nome cidadão? – Disse o guarda.
- Jeeeeee... – tentava falar Jesus.
- Jeferson? – Tentou ajudar outro.
-  Jeeeeeeeee...
- Jerônimo, Jesuíno?
- Cara, você devia parar de ver novela... – Disse outro guarda.
- CALA A BOCA!
- ...suuuuuuuuuuuus.
- Ah tá, Jesus, e de onde você é meu amigo e sua casa?

Parece que a macumba de São Pedro finalmente funcionou e ele desembestou a falar português, mas com sotaque que variava muito.

- Oxi, seu menino sou Jésus de Nazaré, minha casa é a casa de deus num sabe?
- Hum, nordestino, entendi e bem religioso...por isso usa essas roupas e esse barbão. É franciscano?
- Bah, sei não guri, o que é franciscano, estou a procurar meu velho!
- Hã? Que porra tá acontecendo aqui? É impressão minha ou ele mudou de sotaque? – Perguntou pro outro.
- Sei lá, o cara tá bem perdido, parece que tá drogado...Senhor, você é novo por aqui?
- Sim, eu sou centurião! Sabe onde meu pai mora? Javé, deus...
- Olha meu senhor tem mais casa dele por aí que boteco...Gervásio o que a gente faz?
- Sei lá...larga ele aí na praça, se der problema a PM cuida...

Tipicamente brasileiro, os guardas municipais resolveram jogar o problema para o próximo, Juninho, vulgo Jesus, sem entender patavinas se dirigiu para o centro da praça onde tinha um pasto pregando...

Indignado o pastor pensou ser um concorrente de outra vertente cristã, a cisma é simples; além daquela roupa anacrônica que vestia, Juninho estava com um livro na mão (Aurélio, com a última revisão datada de 1988), e um celular Nokia 1100 pendurado no pescoço.

O Pastor começou a vociferar pra cima de Juninho, quando viu ele com o inimigo (acho que era o dicionário), o marmanjo barbudo tentou correr, mas o pastor o segurou pelos cabelos longos e desleixados e começou a tentar tirar o demônio do corpo do pobre diabo, quero dizer, Jesus. Pra sorte dele, o sebo do cabelo permitiu que ele escapasse transloucado pelas ruas da capital, parando em uma lugar nada agradável.

Na época ainda...ah é, até hoje. O Corinthians havia perdido em uma libertadores, era uma oitavas-de-final, e tinha uma manifestação passando pela crackolândia naquele momento. Um dos maloqueiros achou que Juninho era uma Cosplay de São Paulo, que era mascote de um time rival, correram amarraram ele e começaram a enchê-lo com pinga barata, prometeram que iam queimar aquele hippie bambi na frente da sede de seu Clube querido...

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